Tenho estado aqui, andando devagarinho… Evitando todo esse ruído, todo esse movimento abrupto e descontrolado que acontece lá fora. Vivendo no meu próprio universo, saindo para visitar amigos queridos e voltando sempre ao final do dia para o meu próprio aconchego.
Hoje visitei, como sempre com um sorriso no rosto, a biblioteca do meu bairro. É sempre tão gostoso ter ao meu redor todos os livros da minha infância, todas as caras conhecidas dos antigos funcionários, aquela imensidão de autores me chamando, me esperando. Como podemos não utilizar tamanho presente, tantos outros universos e letras assim, de graça. Não sei, somos cada vez mais estranhos.
Tomei emprestado outra vez o livro Tropicália, do Carlos Calado. Que delícia de escrita. Voltei à Tropicália depois que trombei por acaso com a Nara Leão na Colombia. Como um desses chamados, como mais uma dessas mulheres encantadoras que me pegam pela mão e me mostram um caminho mais suave e feminino. Ao mesmo tempo, me mostram essa força, esse poder contestador em tempos difíceis. Nós vivemos tempos difíceis, agora, e não vejo essa junção de Caetanos, Bethânias, Naras, Gilbertos, Robertos, Joãos, Chicos. De Glaubers, Linas e Pierres, de Leilas e Hélios. Cade essas pessoas, que sentem muito, que entram muito dentro de si e depois cospem arte, protesto, qualquer coisa. Todo mundo sente e diz que sente. E só. As vezes caio naquela coisa de querer ter nascido em outra época, parecia mais divertido e mais honesto.
Tenho feito esse mergulho pra dentro da nossa própria cultura, do nosso próprio chamado. Como disse o Ronaldo Fraga em uma entrevista, o mundo está prestando atenção no que a gente veste, fala, come, escuta e cria. Estou tentando prestar atenção nisso e criar alguma coisa genuína também.